Há muito tempo que não tenho dado notícias. Porém, cá estou eu novamente para partilhar com aqueles que se interessarem um pouco dos meus pensamentos.
Hoje farei uma reflexão sobre a dor e para isso tomarei como base os ensinamentos desse grande Mestre que foi Buda.
Tudo começou quando ele ainda era o príncipe Sidharta Gautama e vivia num cercado de beleza, juventude e alegria, tudo obra do seu pai que queria impedir que a natureza de sábio de Sidharta despertasse.
Porém, os Devas resolveram interferir e um dia, passeando com o seu cocheiro, o príncipe vê um velho, um doente e um morto. Para ele foi tudo uma novidade pois ele nunca tinha presenciado a velhice, a doença e a morte. Uma dor terrível inundou o seu coração e ele constatou como a sua vida tinha sido uma ilusão até ao momento. A partir daí ele procurou o caminho da libertação e propagou as 4 Nobres Verdades. Elas são:
1.ª A verdade sobre a dor. A dor faz parte da existência e desde o seu nascimento o homem convive com ela. O sofrimento, as mágoas, as alegrias; a imperfeição das coisas e a sua impermanência são tudo fonte de dor. Aqui pode fazer confusão o facto de a alegria estar presente como sendo causa de dor, porém, a alegria não dura para sempre e assim que esse estado cessa de estar presente entra o sofrimento de ele ter acabado, daí a sua presença.
2.ª A verdade sobre a origem da dor. A causa da dor provém do facto de o homem tomar com realidade o mundo fenomenal e os seu objectos. Ele gasta uma energia tremenda em querer possuir objectos que, pertencendo ao mundo mutável, são impermanentes. É aqui que nasce o desejo, Tanha para os budistas, a sede de prazer, de existir aquela que faz com que o homem queira renascer novamente em busca de novos prazeres dos sentidos.
3.ª A verdade sobre a cessação da dor. O homem tem que ter consciência que a dor expira assim que a «sede» desaparece e isso somente acontece quando ele consegue atingir o Eu Superior, o Atman dos indianos, aquele que está acima do sofrimento, do prazer, da morte. Quanto mais o homem deseja, mas se afasta de Atman, por isso ele deve conseguir libertar-se do desejo e procurar o desprendimento unindo-se a lei que rege o Universo: Dharma (esta Lei está por trás de tudo o que acontece na Natureza e no Homem).
4.ª A verdade sobre o caminho que leva à cessação da dor: o Nobre Caminho Óctuplo.
– Compreensão Justa
– Intenção Justa
– Palavra Justa
– Acção Justa
– Meio de existência Justo
– Esforço Justo
– Atenção Justa
– Concentração Justa
Meditar sobre estes quatro pontos é a chave para que a dor deixe de estar presente em nós. O problema é que nos dias que correm o ser humano não gosta de encarar a dor, ele foge dela em vez de procurar compreendê-la e saber a sua origem. Fomenta-se o prazer como forma de fugir ao sofrimento, sem se perceber que isso somente fomentará mais sede de desejo e consequentemente mais dor.
Porém, tendo consciência de que a dor é algo que todo o ser humano experimenta podemos encará-la como normal e procurar aprender com a sua presença. Vou dar um exemplo: imaginem uma criança que nunca tinha visto um fósforo a arder. Imediatamente ela tenta pegar nele mas queima-se e larga-o. A dor funcionou como aviso de que algo de mal tinha acontecido e na próxima vez a criança não procurará apanhar o fósforo.
A nível psicológico acontece o mesmo, ou seja, sempre que sentimos dor é um aviso de que estamos a fazer algo que não está correcto. Então há que determinar a causa do sofrimento e procurar irradicá-la. E para isso é importante o homem conhecer-se a si mesmo e conseguir perceber o que o poderá fazer sofrer ou não. Se ele agir contra a sua natureza irá sofrer por isso, se agir contra aquilo que o Destino lhe «propôs» também irá sofrer, se desejar ardentemente algo que lhe está inacessível a dor será presença assídua.
Compreendo isto e sabendo actuar de uma maneira harmónica de acordo com o que o Destino lhe concedeu o ser humano acaba por ver na dor algo que o ajuda a melhorar e a perceber o caminho correcto a seguir.
domingo, 14 de dezembro de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Pequena história
Sócrates foi um dos mais marcantes filósofos da história. Não deixou nada escrito e aquilo que dele conhecemos provém dos escritos de Platão, de Xenofonte e de um ou outro historiador da Grécia Antiga. Muitas são as pequenas histórias sobre esta personagem carismática, que gostava de parar as pessoas na rua e interrogá-las sobre as virtudes, sobre a Verdade, a Justiça e os valores. Esta é uma delas:
«Passeava Sócrates um dia pelas ruas de Atenas quando decide interpelar um jovem que passava: "Se eu quisesse adquirir farinha e azeite onde é que o poderia fazer?" O jovem respondeu rapidamente: "No mercado." "E se quisesse adquirir Sabedoria e Virtude?" O jovem ficou confuso e sem palavras. "Segue-me", disse o velho Mestre, "que eu te mostrarei."»
segunda-feira, 28 de julho de 2008
As Crónicas de Narnia II

Outro dos elementos interessantes deste filme foi sobre o comportamento dos governante. No princípio da história ficamos a conhecer o Príncipe Caspian, o herdeiro do trono; mais tarde aparecem os protagonistas, que eram chamados dos Reis do Antigamente.
Peter, o mais velho dos irmãos era o regente da altura. Começa-se a notar que, mais cedo ou mais tarde, iria haver algum confronto devido a existirem «dois galos para um poleiro». A primeira cisão ocorre quando se debate que acção tomar para combater o Lord Miraz. Caspian pretendia fortificar o sítio onde se encontravam e Peter atacar o castelo. Surge logo uma cisão entre os que defendem uma acção e os que defendem outra. No entanto, Caspian, respeitando aquele que era o Regente, acata a solução de ataque ao castelo.
Aí é quando acontece uma situação que irá ter consequências graves. O ataque falha devido ao facto de tanto Caspian, como Peter não chegarem a acordo em relação às acções a efectuar: Caspian pretende resgatar o seu Mestre, Peter queria que ele fosse para o portão comandar as tropas, por exemplo.
Numa altura em que a guarda do castelo já se encontrava quase posicionada, Peter esforça-se por abrir o portão. Uma das suas irmãs diz-lhe que talvez fosse melhor abortar, pois o ataque surpresa falhara. No entanto ele não dá ouvidos e diz: «Não, eu consigo.», o que leva a irmão a perguntar-lhe, «Afinal, por quem é que estás a fazer isto?».
A teimosia de Peter leva a consequências drásticas, pois as suas tropas são derrotadas. Um autêntico massacre ocorre no pátio; quando é dada a ordem de retirada alguns têm tempo de fugir, mas Peter ainda pode ver aqueles que ficaram presos atrás das grades da porta principal a ser mortos.
Tudo isto fez-me reflectir sobre o papel que o governante deve ter na condução do seu povo. Confúcio e Platão dedicaram parte dos seus pensamentos a isso. Ambos falavam do Governante como o mais justo, o mais sábio e o mais harmonioso entre os homens. Na República, Platão refere que, se numa sociedade aquele que faz melhor sapatos deveria fazê-los para todos, porque iam ser bem fabricados, também aquele que fosse mais justo deveria ser o que iria governar.
Confúcio fala-nos das virtudes do Homem Ju, o homem virtuoso. Era aquele que era comedido, mas convicto nas suas ideias, não se deixava controlar pelas emoções, pelas paixões, nem cegar-se pelo orgulho, cultiva a humildade, mas sem ser em demasia, amava as virtudes e tentava aplicar cada uma delas nele próprio, antes de as procurar aplicar ao seu povo. Estas são as características que deveriam imperar no Governante.
No filme, Peter peca pelo orgulho, ele queria demonstrar que estava à altura de comandar as coisas, pois via-se perante a ameaça de Caspian, que era apreciado pelos outros seres de Narnia. O problema é que as consequências do erro de um governante podem ser desastrosas para os que ele comanda, neste caso a morte de quase metade das suas tropas.
Na cena em que, depois de regressarem ao seu refúgio, Peter e Caspian caminham lado a lado silenciosos, a minha amiga (a tal que proporcionou a companhia agradável) disse: «Agora ele tem que reconhecer o erro dele.» Porém, não foi isso que aconteceu, ele culpa Caspian pelo fracasso, pois ainda se encontra cego pelo orgulho. O Príncipe riposta e ambos trocam acusações.
Frustrado, Caspian retira-se e é abordado por um anão que lhe diz que tem o poder de lhe dar o trono. Cedendo à tentação, o jovem segue o seu intelocutor para descobrir que era a feiticeira má que lhe iria proporcionar isso. No momento em que ela estava quase a conseguir libertar-se Peter e os irmãos aparecem e conseguem evitar a sua fuga. Caspian tinha errado, pois tinha-se deixado levar pela frustração e pela ânsia ocupar o seu lugar de Rei.
Estes erros, ceder ao orgulho, à frustração, em pessoas sem grandes responsabilidades não causariam, provavelmente, grande transtorno, a não ser para a própria pessoa. Porém, num governante ceder aos maus hábitos e ao seu lado menos bom é fatal.
Imaginem uma toalha de mesa branca. Se ela já tiver alguma mancha, caso fique mais outra ela passará um pouco despercebida; mas numa toalha totalmente branquinha, limpinha, a mais ínfima das manchas chama logo a atenção.
Assim, no governante, são os seus maus exemplos que ficarão retidos na memória do povo e conseguir limpar isso é extremamente difícil. Ao contrário do que se pensa, o papel de um governante era uma tarefa árdua nos tempos clássicos, pelo menos para aqueles que seguissem as regras de conduta proferidas por Platão e Confúcio.
Para terminar uma pequena história sobre a verdadeira responsabilidade do Governante.
Quando Antonino Pio foi nomeado Imperador, a seguir à morte de Adriano, a sua esposa ficou contentíssima, pois ia ser Imperatriz e iria ter poder. Porém, Antonino, que era um homem bastante sábio, replicou-lhe: «Mas então tu não sabes que agora que me tornei Imperador nós ficamos sem posses privadas?» De facto, aquele que se tornava governante em Roma teria que pôr todos os seus bens pessoais ao serviço do Estado. Ele era como um pai que se sacrifica para educar e alimentar a sua família, se para isso tivesse que abdicar dos seus bens, ele faria isso, mas com esse sacrifício mantinha a ordem da qual era o esteio.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
As Crónicas de Narnia

Fui ver recentemente o filme mencionado no título. Tinha interesse em vê-lo porque me pareceu que poderia ter alguns elementos simbólicos e filosóficos que pudessem ter interesse. E, de facto, teve. É um filme leve, com o qual dá para passar um serão agradável (principalmente se a companhia também for agradável, como aconteceu comigo).
Mais uma vez apresenta-se a relação do homem com um mundo mágico, idílico, luminoso. É de notar o contraste entre a cidade cinzenta onde viviam as personagens principais e a paisagem colorida de Narnia. É o brilho próprio da Natureza, quando se manifesta em todo o seu esplendor. Porém, esse mundo começava a mostrar indícios de estar a ser corrompido, pois Miraz, um dos Lordes ambiciona o trono e manda assassinar o legítimo herdeiro. O príncipe herdeiro consegue fugir e encontra refúgio numa floresta onde irá ter contacto com seres mágicos que o irão ajudar.
Muito elementos haveria para comentar, mas hoje focarei aqueles que mostram a relação do homem com a Natureza. Uma das coisas que notei foi quando Lucy, a mais nova dos quatro irmãos que são as personagens principais, pergunta porque é que as árvores estão quietas e não saem do seu sítio. Em Narnia toda a Natureza era viva, não só as árvores se moviam, como também os animais falavam. Porém, devido à guerra e ao conflito todo reino tinha perdido o seu encanto. É explicado a Lucy que os seres mágicos tinham sido perseguidos, e que se esconderam de tal modo que os Telmarinos (humanos de Narnia) pensavam que eles já não existiam. As árvores tinham-se escondido de tal modo no seu interior, que já tinham deixado de se mover. Alguns animais tinham também perdido a sua natureza mágica, tendo-se tornado em animais selvagens agressivos e regidos pelos instintos. Isso é visto quando Lucy tenta falar com um urso (os ursos eram animais afáveis e simpáticos) e é atacada pelo mesmo, sendo salva no último instante por um anão.
A magia começava a desaparecer, em tempos de crise, busca-se somente a sobrevivência, e esquece-se o resto. Nós próprios, humanos, quando passamos por situações difíceis onde não há dinheiro sequer para comer, esquecemos das nossas próprias naturezas humanas e soltamos os instintos, comportando-nos como animais. Basta ver o que acontece quando há uma catástrofe e as pessoas vão logo aproveitar para assaltar as lojas e roubar alimentos. Em Narnia, a acção humana começava a contaminar o mundo, o homem perdia o respeito pela Natureza e pelos seus espíritos regentes. Os seres como os centauros, os minotauros, grifos, etc deixam de ser considerados como elementos necessários ao equilíbrio natural, passam a ser empecilhos ao avanço da «civilização».
É o mesmo que acontece nos dias de hoje quando construimos cidades cada vez maiores e vamos roubando espaço aos animais, sem nos importarmos com o facto de que todos a fauna, e a flora também, ser necessária para o equilíbrio do ecossistema. A evolução do homem é feita à custa da Natureza em seu redor.
É curioso constatar que noutro obra magna da literatura fantástica «O Senhor dos Anéis», também se foque este conflito entre civilização e natureza. É uma obra em que também existem imensos elementos de interesse em termos simbólicos, e que em posts futuros irei apresentar (desde as várias naturezas do homem até ao percurso do heróis, passando pelos processos de iniciação, etc.).
Voltarei a focar outros aspectos em relação com As Crónicas de Narnia, espero que tenham oportunidade de ver o filme, de certeza que irão apreciar pelo seu tom leve e que deixa fluir a imaginação, coisa que o dito «homem civilizado» vai perdendo aos poucos, tornando-se cada vez mais «cinzento» como as cidades em que vive.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Actividade Ecológica
Neste domingo, dia 6 de Julho, decorreu na Tapada de Mafra uma actividade de voluntariado ecológico organizada pela Associação Cultural Nova Acrópole.
Participaram nesta acção estudantes do Programa de Formação Gratuito para Jovens «Kairós», amigos e associados da Nova Acrópole.
Foi num ambiente sereno, e partilhando o cenário com gamos e javalis, é que a remoção de resíduos não bio-degradáveis decorreu. Uma manhã que passou rapidamente em ambiente de boa disposição e empenho.
Na parte da tarde, depois do almoço, o Eng. Pedro Ochoa fez uma pequena apresentação onde abordou o ecossistema da tapada de Mafra, os diferentes aspectos a ter em conta na organização de um bosque, de uma tapada e de um jardim, bem como algumas curiosidades. Por exemplo, ficamos a saber que a expressão «limpeza de matas» pode ser entendido de maneira diferente. Se a pessoa for leiga entenderá que se irá proceder à remoção de lixo, porém, um silvicultor perceberá que se irá realizar uma limpeza de arbustos e plantas que possam estar a atrapalhar o desenvolvimento de outras espécies vegetais.
Paulo Loução abordou a temática da relação do Homem com a Natureza, que tem mudado muito nos últimos séculos, principalmente a partir do momento em que o ser humano assumiu que não era parte integrante da Natureza e que esta era um recurso para ser gerido por ele. Todas as civilizações antigas defendiam um ponto de vista em que o Homem estava integrado dentro do seio da própria Natureza, participando dos seus ritmos e ciclos. Para se entender melhor este modo de pensar insiro a carta que o chefe índio Seatlle enviou ao Presidente dos Estados Unidos
em 1854, onde faz uma reflexão profunda sobre a relação e o respeito pela Terra.

Foi um dia bem passado e que espero que se repita novamente, pois o contacto com a Natureza regenera o ser humano, habituado a viver em «selvas de concreto» e perdendo a ligação com a terra e com a serenidade e harmonia que esta generosamente nos oferece. Para terminar aí fica a carta.
RESPOSTA DO CHEFE SEATTLE AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS -1854
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Essa ideia parece-nos estranha.
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo.
Cada ramo brilhante de um pinheiro,
cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa,
cada clareira e insecto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo.
A seiva que percorre o corpo das árvores, carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Essa ideia parece-nos estranha.
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo.
Cada ramo brilhante de um pinheiro,
cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa,
cada clareira e insecto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo.
A seiva que percorre o corpo das árvores, carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela faz parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos.
Os picos rochosos, os sulcos húmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.
O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos.
Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil.
Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo.
O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede.
Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nosso irmãos, e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicarem a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes.
Uma porção de terra para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra coisa, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra, aquilo que necessita.
A terra não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Arranca da terra aquilo que seria de seus filhos e netos.
A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos.
Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, os nossos costumes são diferentes dos seus.
A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho.
Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco.
Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um insecto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo.
O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite?
Eu sou um homem vermelho e não compreendo.
O índio prefere o suave murmúrio do vento, encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilhamos o mesmo sopro.
Parece que o homem branco não sente o ar respirar.
Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu ao nosso avó seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra.
Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.
Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um comboio que passava.
Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem.
Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo.
Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe.
Tudo o que acontece à terra, acontecerá aos filhos da terra.
Se os homens cospem na terra, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem: o homem pertence à terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra.
O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios.
Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum.
É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo.
Veremos.
De uma coisa estamos certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é possível.
Ele é o Deus do homem vermelho e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco.
A terra lhe é preciosa e feri-la é desprezar o seu criador.
Os brancos também passarão: talvez mais cedo que todas as outras tribos.
Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejectos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho.
Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo?
Desapareceu.
Onde está a águia?
Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
A Comunicação

Houve uma pessoa que comentou um post meu e que me levou a fazer uma pequena reflexão sobre a Comunicação. Etimologicamente a palavra vem do latim communicatio, que signfica romper o isolamento e praticar uma acção com outros, ou então, a acção de tornar algo comum a muitos. Vemos, por isso, que para existir a comunicação são necessárias pelo menos duas pessoas: uma que emite e outra que recebe.
No comentário ao meu post anterior uma das ideias avançadas é de que hoje em dia a comunicação se baseia somente em sons emitidos, e muitas vezes ruidosos, tendo o homem moderno perdido o contacto com outros tipos de linguagem mais subtil, como o olhar ou o gesto.
Na verdade acho que a coisa vai até mais longe, pois nos dias de hoje quase que já não há comunicação. Como é possível, podem perguntar? Simples, se eu falo algo e a outra pessoa percebe a ideia que emiti, a comunicação foi efectiva. Porém, se eu digo algo demasiado complexo ou a pessoa não entende o que emiti, então a comunicação não se efectuou. Grande parte da comunicação parte do facto de sabermos escutar, e refiro escutar, não ouvir. Para muita gente estas duas palavras são sinónimos, mas isso é ilusório: ouvir é um fenómeno fisiológico, ou seja, o ouvido humano tem certas características que lhe permitem captar uma certa gama de sons; escutar é um acto psicológico, pois manifesta-se no interesse e na consciência que a pessoa põe no assunto que está a ser emitido. Escutar implica perceber aquilo que está a ser transmitido e assimilá-lo.
No nosso quotidiano, porém, a maior parte das pessoas não sabe escutar os outros. Então, o que acontece são monólogos em que cada pessoa vai falando, mas sem escutar o que o outro diz: «Olá, há quanto tempo, o que tens feito?» /«Nada de especial, saí agora do trabalho e estou com muitos problemas lá, o meu chefe...» /«Ihhh! Olha, no meu também acontece cada coisa, nem te conto.» /«É que o chefe tem andado em cima de mim e não me deixa efectuar os trabalhos sem pressão, então tenho estado numa pilha de nervos.» /«Eu estou quase com uma depressão, até tenho andado a fumar mais e tudo.»
Esta é a comunicação que se faz hoje em dia, em que se transmitem somente queixas, aspectos superficiais, mas não se oferece aos outros (lembrar que comunicar vem de "tornar algo comum aos outros") o bom, o belo, o justo.
Aliás, muitas vezes as pessoas agridem os demais com vozes altas, com palavras brutas ou mesmo extremamente violentas. É constante vermos os condutores a gritar entre eles ou as pessoas a barafustarem nos transportes públicos. Isto tudo porque o ser humano perdeu o contacto com o seu interior, não vê o «outro lado do espelho» constatando somente a sua forma externa. Mas dentro de cada um de nós existe um mundo imenso onde uma série de processos vão acontecendo, onde coexistem aspectos bons e maus que merecem a sua devida atenção. Porém tudo isto é negligenciado e cultiva-se somente a forma externa. Eu diria que não existe «comunicação» interior e ao não existir as pessoas não sabem quem são, de onde vêm e para onde vão, não conhecem a sua verdadeira potencialidade bem como a sua natureza real. Vivem somente o presente e respondem somente aos impulsos do mundo exterior.
Chego à conclusão que para se saber efectivamente comunicar há que saber «comunicar» interiormente, só a partir daí é que o homem poderá ter contacto com a sua verdadeira identidade, aquilo que mora mais além do corpo físico e mais além das emoções: a sua Alma, o que de mais verdadeiro existe nele.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Comunicação Não Violenta
Há muito tempo que não tenho dito nada. Hoje também as palavras serão poucas, as suficientes para que vos possa recomendar este link com uma entrevista onde se fala sobre Comunicação Não Violenta. Pode ser de interesse.
http://estilosdevidarcs.blogspot.com/2008/06/tera-feira-17-junho-comunicao-no_17.html
Deixo-vos também um link onde podem ler um pouco sobre o assunto.
http://www.acalentaracademia.tk/
Até breve.
http://estilosdevidarcs.blogspot.com/2008/06/tera-feira-17-junho-comunicao-no_17.html
Deixo-vos também um link onde podem ler um pouco sobre o assunto.
http://www.acalentaracademia.tk/
Até breve.
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