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quarta-feira, 23 de julho de 2008

As Crónicas de Narnia


Fui ver recentemente o filme mencionado no título. Tinha interesse em vê-lo porque me pareceu que poderia ter alguns elementos simbólicos e filosóficos que pudessem ter interesse. E, de facto, teve. É um filme leve, com o qual dá para passar um serão agradável (principalmente se a companhia também for agradável, como aconteceu comigo).

Mais uma vez apresenta-se a relação do homem com um mundo mágico, idílico, luminoso. É de notar o contraste entre a cidade cinzenta onde viviam as personagens principais e a paisagem colorida de Narnia. É o brilho próprio da Natureza, quando se manifesta em todo o seu esplendor. Porém, esse mundo começava a mostrar indícios de estar a ser corrompido, pois Miraz, um dos Lordes ambiciona o trono e manda assassinar o legítimo herdeiro. O príncipe herdeiro consegue fugir e encontra refúgio numa floresta onde irá ter contacto com seres mágicos que o irão ajudar.

Muito elementos haveria para comentar, mas hoje focarei aqueles que mostram a relação do homem com a Natureza. Uma das coisas que notei foi quando Lucy, a mais nova dos quatro irmãos que são as personagens principais, pergunta porque é que as árvores estão quietas e não saem do seu sítio. Em Narnia toda a Natureza era viva, não só as árvores se moviam, como também os animais falavam. Porém, devido à guerra e ao conflito todo reino tinha perdido o seu encanto. É explicado a Lucy que os seres mágicos tinham sido perseguidos, e que se esconderam de tal modo que os Telmarinos (humanos de Narnia) pensavam que eles já não existiam. As árvores tinham-se escondido de tal modo no seu interior, que já tinham deixado de se mover. Alguns animais tinham também perdido a sua natureza mágica, tendo-se tornado em animais selvagens agressivos e regidos pelos instintos. Isso é visto quando Lucy tenta falar com um urso (os ursos eram animais afáveis e simpáticos) e é atacada pelo mesmo, sendo salva no último instante por um anão.

A magia começava a desaparecer, em tempos de crise, busca-se somente a sobrevivência, e esquece-se o resto. Nós próprios, humanos, quando passamos por situações difíceis onde não há dinheiro sequer para comer, esquecemos das nossas próprias naturezas humanas e soltamos os instintos, comportando-nos como animais. Basta ver o que acontece quando há uma catástrofe e as pessoas vão logo aproveitar para assaltar as lojas e roubar alimentos. Em Narnia, a acção humana começava a contaminar o mundo, o homem perdia o respeito pela Natureza e pelos seus espíritos regentes. Os seres como os centauros, os minotauros, grifos, etc deixam de ser considerados como elementos necessários ao equilíbrio natural, passam a ser empecilhos ao avanço da «civilização».

É o mesmo que acontece nos dias de hoje quando construimos cidades cada vez maiores e vamos roubando espaço aos animais, sem nos importarmos com o facto de que todos a fauna, e a flora também, ser necessária para o equilíbrio do ecossistema. A evolução do homem é feita à custa da Natureza em seu redor.

É curioso constatar que noutro obra magna da literatura fantástica «O Senhor dos Anéis», também se foque este conflito entre civilização e natureza. É uma obra em que também existem imensos elementos de interesse em termos simbólicos, e que em posts futuros irei apresentar (desde as várias naturezas do homem até ao percurso do heróis, passando pelos processos de iniciação, etc.).

Voltarei a focar outros aspectos em relação com As Crónicas de Narnia, espero que tenham oportunidade de ver o filme, de certeza que irão apreciar pelo seu tom leve e que deixa fluir a imaginação, coisa que o dito «homem civilizado» vai perdendo aos poucos, tornando-se cada vez mais «cinzento» como as cidades em que vive.