Conta uma história islâmica o seguinte:
«Um velho sábio foi interrogado sobre a sua trajectória na vida até àquele dia. Ele resumiu em três etapas deste modo: "aos vinte anos tinha uma só oração: meu Deus, ajuda-me a mudar este mundo tão insustentável, tão impiedoso. E durante os vinte anos seguintes lutei como uma fera para terminar por constatar que nada tinha mudado. Aos quarenta anos tinha uma só oração: meu Deus, ajuda-me a mudar a minha mulher, os meus pais e os meus filhos! Durante vinte anos lutei como uma fera para terminar por constatar que nada tinha mudado. Agora sou um velho homem e apenas tenho uma oração: meu Deus, ajuda-me a mudar-me. E eis que o mundo à minha volta muda!"»
Que simples e singela história, mas que profundo é o ensinamento que transmite. Vivemos num mundo em que está na moda realizar acções de voluntariado a vários níveis (social, ecológico, etc.) na busca de mudar o mundo e torná-lo melhor. Porém, um factor que permanece inalterado são as próprias pessoas que realizam esses actos ecológicos. Não me entendam mal, o voluntariado é bom e útil, mas não deixa de ser uma fuga, uma ilusão ou uma casca vazia, se for feito sem uma transformação interior, sem uma entrega verdadeira, como um acto de Amor pela Natureza ou pelo próximo.
De que serve realizar actos de ajuda social em África, por exemplo, se não temos paciência para falar com os nossos vizinhos? De que serve alimentar ou abrigar os mais carenciados se não temos a mesma disposição para ajudar um familiar ou amigo? Muitas vezes estes pormenores escapam à nossa consciência e continuamos a tentar mudar o mundo sem o conseguir. E porquê? Porque talvez esses actos de voluntariado sejam uma maneira de fugirmos de nós mesmos, das nossas frustrações, inseguranças, medos, dúvidas ou sofrimentos. Mudarmos a nós próprios implica vermo-nos sem máscara, com os nossos defeitos e virtudes. Mudarmos a nós próprios implicar abdicar de certos comportamentos, hábitos e pensamentos que nos prendem ao nosso lado egoísta, aquele que persegue a fama, a riqueza, os prazeres sensuais, os bens materiais.
Mudarmos a nós próprios implica tomar consciência das nossas limitações e realizar um esforço para as ultrapassar, significa ter força de vontade, persistência e determinação. É saber viver de acordo com valores, não mentir, não prejudicar os outros, não dar azo a que os desejos se manifestem. É saber controlar os pensamentos e direccioná-los para coisas úteis, é realizar acções benéficas, mas com uma intenção também benéfica. Tudo isto implica um esforço em termos de atenção, porém se conseguirmos isto estaremos prontos para fazer a diferença, pois o mundo em nosso redor é constituído e construído por pessoas e se estas forem um foco de harmonia então a sociedade e o mundo irão ser o reflexo dessa harmonia.
A primeira mudança tem que ser em cada um de nós.
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