segunda-feira, 15 de março de 2010

A Viagem do Profeta

As obras de Khalil Gibran, «O Profeta» e «O Jardim do Profeta», são duas das obras mais inspiradas do século XX. Aprovietando a riqueza de ensinamentos que são veiculados nestes escritos a Nova Acrópole de Lisboa realizou uma encenação teatral adaptando as duas obras originando «A Viagem do Profeta», que foi apresentada ao público no dia 12 de Março, no espaço D. Dinis em Lisboa.

Na minha opinião a representação correu muito bem. Notou-se intensidade nos actores, que sendo amadores, foram à essência desta palavra (o que ama) transmitindo todo o seu empenho e dedicação em prol do teatro.

O teatro, mais do que uma forma de entretenimento, é um modo de transformar as pessoas, quer as que participam activamente (actores), quer aqueles que assistem (público). Na Grécia clássica temos o exemplo do Teatro Mistérico, dividido em Tragédia, Drama e Comédia, que tocavam vários aspectos da vida humana, permitindo ao Homem aceder a realidades psicológicas. O teatro era uma forma de o ser humano se conhecer a si próprio, de experimentar diversas sensações que lhe iriam abrir caminho para o seu interior. No fundo tratava-se de uma operação alquímica que ia transmutando aqueles que participavam e assistiam às peças.

Assim, interpretar os textos de Khalil Gibran não é somente um meio de transmitir ensinamentos, mas de vivenciá-los e de procurar assimilá-los tornando cada um dos seus textos propriedade individual.

Para terminar deixo um dos textos de «O Profeta» sobre o Amor. Que sirva de reflexão.

«Quando o amor vier ter convosco,
Segurai-o embora os seus caminhos sejam árduos e sinuosos.
E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob
as asas vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditai,
Embora a sua voz possa abalar os vossos sonhos como o vento do norte
devasta o jardim.
Pois o amor, coroando-vos, também vos sacrificará. Assim como é para o
vosso crescimento também é para a vossa decadência.
Mesmo que ele suba até vós e acaricie os mais ternos ramos que tremem ao
sol,
Também até às raízes ele descerá e abaná-las-á
Enquanto elas se agarram à terra.
Como molhos de trigo ele vos junta a si.
Vos amanha para vos pôr a nu.

Vos peneira para vos libertar das impurezas.
Vos mói até à alvura.
Vos amassa até vos tomardes moldáveis;
E depois entrega-vos ao seu fogo sagrado, para que vos tomeis pão sagrado
para a sagrada festa de Deus.
Toda estas coisas vos fará o amor até que conheçais os segredos do vosso
coração, e, com esse conhecimento, vos tomeis um fragmento do coração da
Vida.
Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,
Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e
chorareis mas não com todas as vossas lágrimas.
O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.
O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor basta-se a si próprio.
Quando amardes não deveis dizer «Deus está no meu coração», mas antes
«Eu estou no coração de Deus».
E não penseis que podeis alterar o rumo do amor, pois o amor, se vos achar
dignos, dirigirá o seu curso.
O amor não tem outro desejo que o de se preencher a si próprio.
Mas se amardes e tiverdes desejos, que sejam esses os vossos desejos:
Fundir-se e ser como um regato que corre e canta a sua melodia para a noite.
Para conhecer a dor de tanta ternura.
Ser ferido pela vossa própria compreensão do amor;

E sangrar com vontade e alegremente.
Despertar de madrugada com um coração alado e dar graças por mais um dia
de amor;
Repousar ao fim da tarde e meditar sobre o êxtase do amor;
Regressar a casa à noite com gratidão;
E depois adormecer com uma prece para os amados do vosso coração e um
cântico de louvor nos vossos lábios.
»

2 comentários:

Patricia disse...

Adorei o poema :-)
Beijo

Patricia disse...

Adorei o poema :-)
Beijo