Há muito tempo que não tenho dado notícias. Porém, cá estou eu novamente para partilhar com aqueles que se interessarem um pouco dos meus pensamentos.
Hoje farei uma reflexão sobre a dor e para isso tomarei como base os ensinamentos desse grande Mestre que foi Buda.
Tudo começou quando ele ainda era o príncipe Sidharta Gautama e vivia num cercado de beleza, juventude e alegria, tudo obra do seu pai que queria impedir que a natureza de sábio de Sidharta despertasse.
Porém, os Devas resolveram interferir e um dia, passeando com o seu cocheiro, o príncipe vê um velho, um doente e um morto. Para ele foi tudo uma novidade pois ele nunca tinha presenciado a velhice, a doença e a morte. Uma dor terrível inundou o seu coração e ele constatou como a sua vida tinha sido uma ilusão até ao momento. A partir daí ele procurou o caminho da libertação e propagou as 4 Nobres Verdades. Elas são:
1.ª A verdade sobre a dor. A dor faz parte da existência e desde o seu nascimento o homem convive com ela. O sofrimento, as mágoas, as alegrias; a imperfeição das coisas e a sua impermanência são tudo fonte de dor. Aqui pode fazer confusão o facto de a alegria estar presente como sendo causa de dor, porém, a alegria não dura para sempre e assim que esse estado cessa de estar presente entra o sofrimento de ele ter acabado, daí a sua presença.
2.ª A verdade sobre a origem da dor. A causa da dor provém do facto de o homem tomar com realidade o mundo fenomenal e os seu objectos. Ele gasta uma energia tremenda em querer possuir objectos que, pertencendo ao mundo mutável, são impermanentes. É aqui que nasce o desejo, Tanha para os budistas, a sede de prazer, de existir aquela que faz com que o homem queira renascer novamente em busca de novos prazeres dos sentidos.
3.ª A verdade sobre a cessação da dor. O homem tem que ter consciência que a dor expira assim que a «sede» desaparece e isso somente acontece quando ele consegue atingir o Eu Superior, o Atman dos indianos, aquele que está acima do sofrimento, do prazer, da morte. Quanto mais o homem deseja, mas se afasta de Atman, por isso ele deve conseguir libertar-se do desejo e procurar o desprendimento unindo-se a lei que rege o Universo: Dharma (esta Lei está por trás de tudo o que acontece na Natureza e no Homem).
4.ª A verdade sobre o caminho que leva à cessação da dor: o Nobre Caminho Óctuplo.
– Compreensão Justa
– Intenção Justa
– Palavra Justa
– Acção Justa
– Meio de existência Justo
– Esforço Justo
– Atenção Justa
– Concentração Justa
Meditar sobre estes quatro pontos é a chave para que a dor deixe de estar presente em nós. O problema é que nos dias que correm o ser humano não gosta de encarar a dor, ele foge dela em vez de procurar compreendê-la e saber a sua origem. Fomenta-se o prazer como forma de fugir ao sofrimento, sem se perceber que isso somente fomentará mais sede de desejo e consequentemente mais dor.
Porém, tendo consciência de que a dor é algo que todo o ser humano experimenta podemos encará-la como normal e procurar aprender com a sua presença. Vou dar um exemplo: imaginem uma criança que nunca tinha visto um fósforo a arder. Imediatamente ela tenta pegar nele mas queima-se e larga-o. A dor funcionou como aviso de que algo de mal tinha acontecido e na próxima vez a criança não procurará apanhar o fósforo.
A nível psicológico acontece o mesmo, ou seja, sempre que sentimos dor é um aviso de que estamos a fazer algo que não está correcto. Então há que determinar a causa do sofrimento e procurar irradicá-la. E para isso é importante o homem conhecer-se a si mesmo e conseguir perceber o que o poderá fazer sofrer ou não. Se ele agir contra a sua natureza irá sofrer por isso, se agir contra aquilo que o Destino lhe «propôs» também irá sofrer, se desejar ardentemente algo que lhe está inacessível a dor será presença assídua.
Compreendo isto e sabendo actuar de uma maneira harmónica de acordo com o que o Destino lhe concedeu o ser humano acaba por ver na dor algo que o ajuda a melhorar e a perceber o caminho correcto a seguir.
domingo, 14 de dezembro de 2008
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