O filme conta a história de Jason, um rapaz que é um fanático pelos heróis de artes marciais chegando mesmo ao ponto de saber o nome de cada técnica usada por eles. Ele costuma frequentar uma pequena loja de penhores, em Chinatown, onde compra os filmes que adora. É aí que vê um bastão que é associado a um lendário herói: o Rei Macaco. O proprietário da loja diz-lhe que o objecto está ali desde que o avô dele fundou o estabelecimento, esperando que um escolhido apareça para o poder entregar ao seu legítimo dono. Durante um inesperado assalto o bastão é confiado a Jason que parte assim para uma aventura emocionante, trocando a cidade de Boston pelas paisagens da China Antiga, onde os Deuses também marcam a sua presença.
Encontrando ajuda de um bêbado lutador de Kung Fu e de uma linda guerreira ele parte na busca da montanha onde se encontra aprisionado o Rei Macaco para lhe devolver a liberdade e a sua arma mágica.
Neste filme nota-se a estrutura que está presente em todos os mitos heróicos. O Herói vive no seu mundo, muitas vezes perdido na ignorância da sua condição ou no anonimato (Jason era um rapaz simples com o qual os rufias se metiam). É então que algum acontecimento despoleta uma mudança na sua vida, des-pertando-o pa-ra uma missão (o assalto à loja no qual Jason é obrigado a par-ticipar é o ele-mento que o vai fazer res-ponsável pela arma mágica). O Herói é obrigado a abandonar o seu lar e parte numa busca (a saída de Boston e a entrada no reino mágico da China Antiga). É aí que os aconte-cimentos irão pôr a personagem em contacto com aquele que o irá ajudar a evoluir, que tanto pode ser um Mestre, como um Sábio, um Mago, etc. (neste caso trata-se de Lu Yan, o bêbado lutador de Kung Fu, papel desempenhado por Jackie Chan). Ao mesmo tempo que empreende a sua busca, o Herói vai sendo instruído, encontrando, em alguns mitos, outras personagens que o ajudarão na sua missão (Jason é instruído por Lu Yan, e na missão vão participar uma jovem guerreira e um monge).
Entretanto as Forças do Mal irão tentar impedir o Herói de atingir o objectivo (a bruxa e o malvado Senhor da Guerra). O Herói enfrenta a sua batalha decisiva, vence e retorna ao seu mundo totalmente diferente, mais maduro e livre dos seus anteriores limites (a batalha contra o Senhor da Guerra, a libertação do Rei Macaco e o retorno a Boston).
Querem um exemplo de algo semelhante? A história de Buda. Ele vive no palácio do seu pai e a visão de um doente, de um velho e de um morto irão fazer com que ele desperte para uma realidade que ele desconhecia (vivência no seu mundo, perda da ignorância e elemento que despoleta a missão). Ele, então, parte do palácio em busca da Verdade sobre o sofrimento humano (abandono do lar e início da procura). Frequenta vários Mestres que o fazem conhecer alguns elementos, acabando por encontrar a iluminação pelos seus próprios meios depois de ter vencido as tentações do demónio Mara (ajuda dos Mestres, acção das Forças do Mal e vitória na batalha decisiva). Depois disso abandona o exílio e volta ao mundo como Buda, o Iluminado (retorno já livre das suas amarras).
Outros elementos interessantes no filme é o modo como o desenvol-vimento do Herói vai acontecendo. Ele primeiro é alguém que se submete à sua fraqueza, não ten-do convicção no que é, ele desco-nhece a força que tem em potencial. De facto, Jason gaba-se de conhecer todos os golpes dos seus heróis de artes marciais, mas não sabe fazer nenhum. Isto é a mostra do conhecimento intelectual que muitos seres humanos têm, mas que não põe em acção. Afinal de que é que serve eu saber as Quatro Nobres Verdades de Buda se não as conseguir utilizar no quotidiano? A Sabedoria nasce quando se passa o conhecimento da mente para o coração, vivenciando-o e tornando-o realidade com os nossos actos. É isso que Jason vai aprender quando começa a sua formação. Há uma cena curiosa que acontece quando ele pergunta a Lu se este lhe vai ensinar alguns golpes como a Mão de Buda e alguns outros que ele conhece dos seus heróis. Lu encontrava-se a encher a taça de Jason com chá e deixa ela transbordar. Jason reclama, mas o Mestre replica dizendo que do mesmo modo que a taça transborda quando está demasiado cheia também o conhecimento não tem lugar quando temos a mente ocupada com muitos elementos. Jason não poderia aprender o verdadeiro Kung Fu se a sua cabeça estava cheia de fantasias, ele teria que «esvaziar» a sua taça mental para que houvesse espaço para a verdadeira aprendizagem.
Aí nota-se a importância do papel do Mestre no dispersar das trevas que toldam a mente do Herói, ele tem que abandonar um mundo criado na sua mente, uma fantasia, para começar a viver a realidade que ele irá ter que criar. Em certo momento refere-se no filme que o Discípulo segue o Caminho do Mestre, mas que em determinado momento terá que iniciar o seu próprio Caminho e descobrir a sua própria Verdade.
Os Mestres são aqueles que têm a chave para abrir as portas da Alma, mas isso de nada servirá se o Discípulo não aprofundar nos conhecimentos, não se esforçar e meditar por ele próprio. E é isso que Jason vai fazendo, praticando afincadamente os exercícios. Porém, ele ainda não está totalmente preparado. Muitas vezes os ensinamentos tornam o Discípulo demasiado confiante nas suas potencialidades, fazendo com que cometa algum erro que pode ser grave. No filme Jason comete esse erro quando, para salvar a vida de Lu, desobece ao conselho do monge e parte em busca do elixir da imortalidade no castelo do vilão, levando o bastão consigo. Tomando esta atitude ele não põe em risco somente a sua vida, mas acima de tudo põe em risco a vida de centenas de pessoas, pois se o bastão caísse nas mãos do Senhor da Guerra e fosse destruído o Rei Macaco não poderia voltar a viver e o mundo ficaria mergulhado nas sombras da tirania.
Por sorte, ou melhor, devido aos caminhos do Destino, no momento em que se preparava para ser executado e o bastão estava para ser destruído, o monge e a guerreira chegam para salvar a situação. Aqui nota-se a falhas que muitos de nós pode ter quando pensamos que o conhecimento que temos é o suficiente para alcançar mais altos voos. Há que manter sempre a humildade e não ceder ao orgulho. Mantendo a humildade posicionamo-nos sempre de maneira a mantermos a mente aberta para a novos conhecimentos e não criamos uma imagem falsa, pensando que somos o oceano, quando não passamos de pequenos lagos. Jason falhou nesse aspecto, no facto de não ter escutado o conselho de alguém mais experiente e de ter cedido ao seu próprio egoísmo, pois apesar de parecer que queria salvar o amigo, ele estava a tentar salvar-se da dor que sentiria ao perder o amigo, apesar deste lhe ter dito que ele o deveria esquecer. É com base nestas pequenas subtilezas que aparecem escondidas em coisas aparentemente certas que muitas vezes tomamos as opções erradas.
Por fim aparece um ensinamento ligado ao Karma. A rapariga queria-se vingar do Senhor da Guerra por este ter matado os seus pais. O monge diz que ele deve ser combatido, mas que não se devia odiá-lo, pois a procura de vingança podia-se voltar contra a pessoa que a pretendesse. Ela responde que quando estivesse à frente do vilão não era a paz que lhe iria oferecer, mas um dardo que estava preparado para matar os Imortais. Na cena da batalha final, ela tem uma oportunidade de executar a sua vingança, mas o Senhor da Guerra, com seu Chi desvia o dardo e projecta a guerreira contra um pilar, ferindo-a grave-mente. É Jason quem acaba por matar o vilão com o dardo.
Quando aparece o Rei dos Deuses, Jason leva a rapariga à sua pre-sença e pergunta se ele não poderia fazer nada para a salvar. Porém, sa-biamente, o Deus replica que ela própria tinha escrito o seu desfecho e que ele nada podia fazer contra isso. Ou seja, nós somos responsáveis pelas coisas que nos acontecem, tudo depende daquilo que fazemos e da intenção com que fazemos. Mesmo os Deuses nada podem contra a Lei que rege o Cosmos.
Tudo isto são elementos de interesse num filme leve, divertido com o qual se pode passar um serão agradável.